Em seu comentário na edição de segunda 17 do Seu Jornal, da TVT, Douglas Belchior falou sobre o anúncio de que Geraldo Alckmin (PSDB-SP), governador de São Paulo, ofereceu recompensa em dinheiro por informações que levem aos responsáveis pela chacina ocorrida em Osasco e Barueri (grande São Paulo), atribuída a soldados da PM.
O ativista do movimento negro avalia que “quando ele sugere uma recompensa para tentar encontrar quem, entre os seus, é o criminoso, isso por si só já é uma auto-denúncia. É reconhecer a ineficácia, um problema interno na gestão da Polícia Militar em São Paulo.”
O governo de São Paulo está oferecendo R$ 50 mil a quem tiver informações sobre os ataques da quinta-feira 13, que deixaram 18 mortos. Testemunhas e familiares das vítimas já estão sendo ouvidos e a corregedoria da Polícia Militar apura suspeita de participação de policiais nas chacinas.
Para Douglas Belchior, ao estimular a denúncia, o governo tenta colocar a culpa no indivíduo, quando, na verdade, trata-se de um “problema institucional”, segundo ele. “Tanto o secretário de Segurança Pública, quanto o governador, que hoje oferece uma recompensa, são tão responsáveis em relação a esses assassinatos como aqueles que apertaram o gatilho”, diz o comentarista.
“Infelizmente, a segurança pública, no Brasil, sempre foi um instrumento de manutenção da ordem, de usufruto das ações violentas para manter controle social sobre determinadas populações, a população negra em especial, populações alocadas em determinados territórios como periferias, bairros pobres, favelas e cortiços. Há uma cultura de violência que é herança direta da ditadura militar, visto que em todos os outros campos dos direitos sociais a gente teve algum tipo de avanço, nesses últimos trinta anos, depois da última ditadura, e no campo da política de segurança pública, não”, analisa Douglas.
Somando o passado da ditadura com o racismo advindo de quase quatro séculos de escravidão, “a Polícia Militar a age, nas ruas e nas periferias, como se a outra pessoa, com exceção deles, militares, fossem inimigas”, e a cada caso que um policial é abatido, os policiais se organizam para revidar a violência sofrida.
Douglas diz que o ocorrido na última semana não é novidade e relembra o casos de 2006, em São Paulo, conhecido como crimes de maio, quando mais 500 pessoas foram mortas em choques entre a Polícia Militar e o crime organizado, e, mais recentemente, em Belém, no Pará, que viveu uma madrugada de terror, quando policiais saíram às ruas para vingar a morte de um colega.
Dez pessoas, divididas em três grupos, teriam participado das execuções, segundo o secretário de Segurança, Alexandre de Moraes. A maneira de agir foi a mesma e seguiu um padrão: homens encapuzados chegavam em um carro e uma moto, perguntavam quem tinha ficha criminal e atiravam. Foram 10 ataques em pouco mais de duas horas.
A principal hipótese da chacina é de vingança pela morte de um policial, no último dia 7, por dois assaltantes, em um posto de gasolina da região. Uma semana depois, aconteceram os ataques. O Instituto de criminalística identificou que as armas utilizadas eram de quatro calibres usados comumente pela Guarda Civil, Polícia Federal, Forças Armadas e agentes de segurança durante a folga.
Segundo dados da secretaria de Segurança Pública, o número de mortos por policiais paulistas em serviço, no primeiro semestre deste ano, é recorde dos últimos dez anos. Foram 358 mortes causadas por policiais civis ou militares. Em geral, os agentes dizem que as mortes acontecem em confronto com bandidos.